O que o Superman e o Coiote tem em comum?
- rafaelsantannamaga
- 9 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Vulnerabilidade é sinal de força? Reconhecer os próprios pontos fracos, será uma forma eficiente de empoderamento pessoal?

O que o Superman e o Coiote têm em comum? Além de serem personagens de ficção, ambos possuem vulnerabilidades. A kriptonita e o amor por Louis Lane, de um lado, e a obsessão por pegar o Papa-léguas, do outro. O Superman pode quase tudo, mas não pode com a radiação de fragmentos do seu planeta natal. Quando ele se desdobra para proteger sua amada Louis, deixa de ser um extraterrestre superpoderoso e vira apenas um homem apaixonado.
Por muito tempo, o foco era se mostrar "à prova de balas" e admitir uma fraqueza era "coisa de frouxo”. Pois bem, essa conversa já era antiga no século passado e precisa realmente ser superada. Na ética atual, admitir uma fraqueza é sinal de transparência e só traz efeitos positivos. Evoca humanidade e desperta a empatia, o primeiro passo para conquistar a confiança das pessoas.
Claro que o ideal é desenvolver a capacidade de se posicionar na sociedade de forma íntegra, mostrando forças e fragilidades, mas é preciso reconhecer que há muitas pessoas e empresas fracassando espetacularmente nessa missão. Vivemos a era da internet e das redes sociais, que nos dão a possibilidade de nos posicionar, por meio de conteúdo próprio, seja você quem for. Isso é inédito em termos históricos. Até duas décadas atrás, só os privilegiados tinham espaço nos veículos de comunicação. Hoje, todos temos acesso ao protagonismo midiático. Podemos ter perfis diferentes em cada rede social ou aplicativo e até construir avatares no metaverso. Essa multiplicidade faz com que a questão deixe de ser a possibilidade de ter voz e passe a ser a qualidade da comunicação, a profundidade do conteúdo e a eficiência do posicionamento.
Parece que muitos estão usando essas possibilidades de forma equivocada. Muitas pessoas e empresas constroem uma presença nas redes que mostra uma realidade tão perfeita que deixa claro que é irreal.
Mostrar uma imagem ideal virou uma obsessão perigosa, quanto os planos mirabolantes do Coiote para pegar o Papa-léguas.
Cada vez mais fica claro que a transparência é um fator de atratividade para as empresas. No século passado, ser uma "caixa preta" era algo valorizado. Hoje isso se inverteu. As boas práticas de compliance e ESG (Environmental, Social, Governance) exigem que as empresas sejam verdadeiras "caixas de cristal" para serem atraentes para os talentos e investidores.
Portanto, a sinceridade sobre fraquezas e desafios de cada organização, empresa ou indivíduo é importante em termos de credibilidade. E essa tendência de pensamento vem se consolidando.
Um bom exemplo é a disseminação no circuito corporativo do conceito de Antifragilidade descrito por Nassim Nicholas Taleb, no seu livro Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos. Na obra, o autor mostra que é possível colher benefícios mesmo em contextos que teoricamente seriam prejudiciais por exporem fragilidades. Esse conceito mostra que, ao abraçar uma dificuldade, surgem caminhos para superá-la e que isso pode ser uma forma de crescimento bastante válida, além de gerar credibilidade.
O conceito de Lifelong Learning é outro indício de que a perfeição não é mais um valor convincente na nossa sociedade. No passado, as pessoas se formavam na faculdade e se consideravam onipotentes nas suas áreas de especialidade. Hoje, todos sabem que a evolução exponencial da tecnologia exige que o aprendizado nunca termine. Essa percepção traz humildade e humanidade e mostra que as fragilidades são parte da vida real.
A própria ascensão das startups como foco de investimentos demonstra que até o mercado de venture capital vem aceitando os pontos fracos das empresas novas e inovadoras, mantendo fluxos de financiamento amparados pelas suas potencialidades, enquanto observa os pontos de melhoria.
Cada vez mais precisamos de empresas confiáveis, transparentes, que discutam de igual para igual com seus consumidores, ouçam críticas, não tenham medo de compartilhar suas falhas – assim como suas vitórias – , desejem evoluir continuamente e mostrem suas fragilidades, gerando identificação com as pessoas reais.
Como sociedade, em escala mundial, desejamos empresas e marcas mais humanas e empáticas, que nutram relacionamentos saudáveis com seus consumidores, colaboradores, clientes e parceiros. Também necessitamos que instituições, privadas ou não, prezem mais por condutas éticas. Precisamos nos sentir acolhidos, confortáveis, seguros e isso só acontece quando existe credibilidade.
Para vivermos uma vida plena, é preciso valorizarmos a verdade e nos indignarmos pela sua falta. Não existe "bala de prata" para resolver a crise de confiança em que vivemos, mas o primeiro passo pode ser identificar nossas vulnerabilidades e fazer delas uma parte construtiva da nossa história – exatamente como Clark Kent e o Coiote fazem na ficção.
Fonte: Época Negócios - Por Rodrigo Rocha
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